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Em uma visão histórico-cultural umbandista, que segue uma linha da brasilidade, porém, muito enraizada nas influências do Povo Bantu e Indígena brasileiro, não somos adeptos ao embranquecimento da religião e muito menos ao que interpreto como apropriação cultural, entretanto, não somos a favor de uma “reafricanização” na Umbanda, pois não vemos a Umbanda como uma religião de matriz africana e sim com influências afro-brasileiras, o que é bem diferente. Viso a Umbanda em sua estrutura como uma religião simples, o que lhe faz rica, a qual cultua e tem como alicerce os espíritos em seus diferentes graus evolutivos, espíritos esses que não se prendem aos padrões de uma codificação da Doutrina Espírita, embora obtemos em nossos ritos parte de sua liturgia.
Nosso entendimento é que a Umbanda foi se desenvolvendo sobre uma forte miscigenação linguística-cultural, como a introdução do culto aos Orixás, por exemplo, e principalmente os cultuados do panteão africano Nagô/Yorubá os quais são vistos hoje de uma maneira má interpretada. Assim, fere na prática muito os seus fundamentos e a sua base histórico-cultural. Sabendo que a Umbanda de nação sempre foi cultuada desde seus primórdios quando o termo Umbanda ainda não existia, ou seja, cultos providos do candomblé de caboclo, roda de catiço dentre outros.
As principais nações espirituais que cultuamos são as nações de Angola, esta está como nação mãe, Keto e Jeje, pois o medium é livre em receber a essência a qual foi designado viver. Entre espíritos cultuamos Caboclos, Pretos Velhos, Boiadeiros, Marinheiros, Baianos, crianças e nossos guardiões, conhecidos como Exus e Pombo Giras.
O começo, ou seja, a semente, é inegável que seja africana, especificamente em território Bantu (Congo-Angola). Muitas culturas presentes na Umbanda advêm dos costumes bantu, como por exemplo; dançar, cantar, tocar tambores, bater palmas, fio de contas, ritmos e outros, aliás, essas culturas refletem o dia a dia do brasileiro, porém, o mesmo desconhece isso e quando toma conhecimento resiste e passa a entrar em um sistema de negação.
O povo que habitava à região Bantu (Congo-Angola), além do alicerce ligando ao culto as divindades, conhecidas como Jinkisi e Akixi, também cultuava espíritos através de sua ancestralidade, tal povo chamava esses espíritos de “Baklulu”. Os Bakulu se manifestavam em pessoas preparadas para isso, com a finalidade de orientar as demais, dar consultas, boas palavras, passes, passar medicações através de ervas e chás.
O nome “Umbanda” advém de “NBANDA”, uma palavra do vocábulo Kimbundu, que significa grosso modo “Magia da Cura”. Ressaltando que o nome “Nbanda” (lê-se umbanda) era usado para denominar tudo que se ligava a cura através dos encantos da espiritualidade e da magia espiritual.
Os povos Congo-Angola que cultuavam os Bakulu, são o alicerce do culto aos Pretos Velhos no Brasil, ou seja, do culto aos ancestrais africanos através de incorporações mediúnicas. Perceba na maioria dos Pretos Velhos, principalmente os primeiros que se manifestaram em médiuns no Brasil, se denominava ou era denominada como “Pai Fulano de Angola” “Vó Cabinda”, “Pai Congo”, “Maria de Congo ou Maria Conga”, “Pai Guiné” e assim por diante. Todas as denominações dando como referência os lugares da região Bantu (Congo-Angola).
Lembrando que os Povos Nagôs/Yorubás não cultuavam espíritos, pelo menos não dentro dos moldes dos Bantos, os nagôs tinham uma visão um tanto pejorativa dos espíritos, os colocavam em uma só classificação. Portanto, os povos que cultuavam as divindades conhecidas como “Orixás”, não tinham relação alguma com cultos aos espíritos para consultas, passes, orientações e outros, pelo contrário, possuíam uma resistência em relação a isso.
No ano de 1530, chegaram os primeiros africanos escravizados no Brasil, africanos da região Bantu (Congo-Angola). Naquele mesmo período, os indígenas estavam sendo, de alguma maneira, escravizados e manipulados em terras brasileiras, pois passavam pela mesma manobra escravista que os bantos passaram de 1480 a 1530.
No Brasil, os indígenas, assim como os bantos na África, possuíam (e ainda têm) um imenso leque cultural. Dentre suas crenças, há uma delas que hoje se chama “Jurema Sagrada” (religião brasileira do panteão indígena). Jurema, em resumo, era uma crença em torno de uma árvore sagrada com o mesmo nome. Em seus rituais tinham danças, cantos, fio de contas, defumações, chás e também incorporações que são conhecidas atualmente como mediúnicas dos antepassados indígenas, hoje, porém, conhecemos essas manifestações como culto aos Caboclos ou Caboclos de Penas, culto esse manifestado em diversos segmentos religiosos no Brasil.
Os indígenas, mesmo em situação desfavorável, acolheram os bantos ajudando-os em adaptações territoriais e na implantação de suas crenças diárias. E, em algum momento desse período de 1530 a 1600, houve uma miscigenação fortíssima de costumes ritualísticos entre indígenas e os bantos, entre elas, a junção do culto aos antepassados indígenas com o culto aos antepassados Bantos, foi daí que originou-se a estrutura do culto ao Caboclo e Preto Velho no Brasil. Esse feito foi um grande alicerce aos terreiros de Umbanda tradicionais, onde em sua maioria, os cultos e a base da religião eram voltados a essas duas referências espirituais.
Lembrando que a forma de culto nessa época e anteriormente a isso, não se baseava numa estrutura religiosa e sim, numa estrutura cotidiana. As crenças e rituais faziam parte do dia a dia desses povos, portanto, seus cultos e rituais não tinham uma denominação religiosa, esse padrão de denominação é de origem europeia e veio muito à frente, quando tudo foi se estruturando nos moldes europeus, principalmente no que se trata ao cristianismo, ou seja, o catolicismo da época.
O nome “Umbanda” para se referir aos rituais e cultos, principalmente o culto ao Caboclo e Preto Velho, foi predominando por uma questão de costume bantu, pois, o indígena em algum momento foi sendo perseguido de outra maneira, como ainda é hoje e, com isso foi se afastando das comunidades locais, se isolando nas matas fundas, foi então que em período escravista a cultura bantu, entre ela a cultura linguística foi se predominando entre essa estrutura miscigenada com os indígenas que havia ficado como herança.
O sincretismo religioso foi uma manobra estratégica do africano em período de escravidão, ele não começou no Brasil, começou em África, no território Bantu (Congo Angola). O Sul e Sudeste da África foram invadidos pelos europeus no ano de 1480. De 1480 a 1530 a escravidão ocorreu em África, foram 50 (cinquenta) anos de escravidão antes dos africanos serem trazidos a força para as Américas. A primeira ferramenta dos europeus para conseguirem escravizar os africanos, foi justamente o argumento religioso, com isso eles demonizaram as crenças africanas e todo resto, obrigando os africanos a serem batizados na “Santa Igreja”, onde receberam nomes portugueses, foram obrigados a aprender a língua portuguesa e proibidos de cultuarem suas divindades, espíritos e outros. Nesse período ainda em África, os bantos obtiveram a estratégia de camuflarem suas divindades, no caso os Akixi e Jinkisi atrás da figura dos Santos da Igreja, desta maneira chamavam suas divindades pelos nomes dos santos.
O povo bantu, trouxe essa estratégia já montada para o Brasil e, duzentos anos após um período escravagista mais assíduo e muito mais pesado, chegaram ao Brasil outras etnias africanas, entre essas etnias o Povo Nagô/Yorubá, que trouxe a crença nas divindades conhecidas como “Orixás” e a língua Yorubá. Com isso, os nagôs usaram da estrutura que os bantos já tinham deixado, uma delas foi o sincretismo religioso, adaptaram seus Orixás a essa manobra estratégica.
O que isso reflete na religião de Umbanda?
Evolução. Seguimos e acreditamos que a natureza é nosso norte e, como está sempre em transformação, adequamos as necessidades da atual humanidade. A natureza é a nossa bússola, nosso cajado e nosso mapa. Nela estão contidas todas as respostas.
Em meio a tantas vertentes na Umbanda, não nos intitulamos como tal, mas seguimos de acordo com nossas crenças, sempre respeitando as demais, sejam de qualquer origem, incluindo todas as outras crenças do mundo. Todos são respeitados pois uma de nossas primícias é que se não respeitamos a fé alheia, também não somos capazes de respeitar a nossa.
O que fazemos em tradição ao sacerdócio é que existe o tempo de preparo, todos os ritos a serem seguidos, logo, nenhum templo de Umbanda representa o Templo Tata Possum ou tem nossa bandeira hasteada em suas casas e Templos, pois não passou por todos os nossos ritos iniciáticos.
Aruanda não trabalha a brincadeiras, espiritualidade e seriedade são condições para seguir este caminho e, principalmente o respeito entre Zelador e as entidades representantes do Templo.
Aguarde…